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UM PONTO É TUDO
O mexilhão de Colares
por FERREIRA FERNANDES29 Setembro 2011
Em 1970, Tom Wolfe publicou uma reportagem, obra-prima do Novo Jornalismo, a vida real narrada literariamente. Contava uma festa no apartamento duplex de Leonard Bernstein, na snob Park Avenue, em Manhattan. Bernstein era um maestro famoso, autor da música do filme West Side Story e membro daquela esquerda caviar à qual Tom Wolfe, intitulando a reportagem de "Radical Chic", cunhou o nome. Naquela festa, além de ricos e famosos (o realizador Otto Preminger, a televisiva Barbara Walters), Bernstein recebia uns convidados de óculos escuros, casacos de couro e cabeleira afro, que foram os heróis da noite: eram membros do Partido Panteras Negras que, entre canapés de queijo roquefort com noz moída, propagandearam a luta armada. Houve também doações para a causa (Preminger deu mil dólares) e exclamações sufocadas das damas ("estes, sim, são homens a sério") - enfim, o trivial do encontro entre a Raiva Negra e a Culpa Branca tão comum naqueles anos. O agora famoso negro americano, George Wright, apanhado esta semana em Colares, Sintra, não estava naquela festa, o seu partido era outro, rival dos Panteras Negras, o Exército Negro de Libertação. Mas em 1970, fugido da prisão, também deve ter conhecido a sua dose de radicais chiques. Hoje, estes ainda devem ser chiques, mas duvido que continuem radicais. A Wright, bom vizinho e bom homem, como se diz em Colares, é que não valerá de nada dizer que mudou em 40 anos.
Perfeito perfeito.
O trocadilho com o mexilhão, Colares e quem se lixa.