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Colares hoje é prodiga em vivendas, e nascem vivendas em tudo o que é canto, mas outrora, há 40, 50, 100 anos, Colares foi muito importante na economia lisboeta.
Eram famosos, os vinhos, as maçãs e os pêssegos-rosa de Colares.
Estes últimos lembro-me de comer alguns quando era miúdo, com um sabor como nunca mais vim a encontrar.
Colares era o grande centro agrícola da região, e as mulheres de Colares iam para a Praça de Ribeira vender os seus produtos (cultivados pelas suas famílias). Havia uns distribuidores (os mais conhecidos eram os Irmãos Baetas, que mais tarde viriam a fundar os supermercados Baeta) que levavam para venda os produtos dos agricultores mais pequenos, e em troca compravam os bens que estes não tinham acesso a comprar: Arroz, petróleo, farinha, etc.
Os vinhos ganharam muita fama e atraíram muita gente (O livro O Mistério na Estrada de Sintra de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, conta a história de um fidalgo que foi a Colares comprar vinho). Um facto que apenas descobri no passado inverno, é que na altura, o mercado da ribeira era quase totalmente dominado por vendedoras de Colares, de tal modo que a palavra colareja, que numa primeira interpretação significa mulher de Colares, enraizou-se na lingua portuguesa como o que no calão designamos "mulher da praça" ou "peixeira".
Segundo o dicionário Universal da Texto Editora: colareja: de Colares, n. pr. s. f., mulher que vende frutas e hortaliças nos mercados de Lisboa; regateira; mulher que discute grosseiramente.
Aqui fica a história "oficial" da vila de Colares:
Nas faldas da serra de Cintra, uma legua ao oeste da villa d'este nome, está sentada a villa de Collares à sombra de frondosos arvoredos. Pela encosta da serra sobranceira à povoação vão subindo algumas casas, quintas, e mattas de castanheiros. Inferior à villa estende-se um fertil valle, denominado a Varzea, todo coberto de pomares, e cortado pelo rio das Maçãs, que vae desaguar no oceano d'ahi uma legua. É pois sobremodo amena e deliciosa a situação de Collares.
Quanto à sua origem pouco se sabe, só sim que é muito antiga, e que já existia no tempo dos romanos, porque d'isto dão testemunho muitas medalhas e inscripções romanas, que ahi teem sido encontradas. Tambem não consta o que passou sobas diversas dominações, a que esteve subjeita a Lusitania depois da queda do imperio romano. Provavelmente viu-se livre do jugo sarraceno ao mesmo tempo que a sua visinha Cintra, que foi resgatada por D.Affonso Henriques. El.rei D.Diniz deu foral a esta villa em Maio de 1255. D.João I fez doação d'ella ao condestavel D.Nuno Alvares Pereira em Agosto de 1385.
Depois, passando successivamnete a differentes netos d'este heroe, veiu a pertencer à infanta D.Beatriz, mãe d'el-rei D.Manuel, pela morte da qual entrou Collares outra vez no dominio da coroa. Este ultimo monarcha deu-lhe então novo foral em Novembro de 1516, augmentando-lhe muito os antigos privilegios. Sobre a etymologia do nome de Collares, parece melhor opinião a que o deriva dos dois collos ou collinas, sobranceiros à Varzea, em que a villa está edificada. Collares teve tambem o seu antigo castello, e tão antigo que nada se sabe ao certo relativamente à sua fundação. No reinado d'el-rei D.Sebastião, e ja anteriormente, o senado da camara servia-se d'elle para diversos usos do ministerio publico.
Porém no tempo dos Filippes de Castella, querendo D.Diniz de Mello e Castro, que foi bispo de Leiria, de Vizeu, e da Guarda, estabelecer n'esta villa a sua residencia, pediu e alcançou a posse do castello, que logo transformou em um palacio, juntando-lhe uma bella quinta, actualmente pertencentes a seus herdeiros. D'esta fortaleza provavelmente procedem as armas da villa, que são um castello entre arvores. Tem Collares uma só parochia dedicada a Nossa Senhora da Assumpção.
A casa da misericordia foi fundada por D.Diniz de Mello e Castro. Nas proximidades da villa, em logar plano, mas um pouco mais alto, está o edificio do extincto convento de Sant'Anna, que pertenceu aos religiosos carmelitas. Deu principio a esta fundação frei Constantino Pereira, que morreu em 1465, e era sobrinho do condestavel D.Nuno Alvares Pereira. Na capella-mór da egreja está sepultado o seu padroeiro, o bispo D.Diniz, e n'outras sepulturas, em um carneiro, e em dois tumulos de marmore, varias pessoas da sua familia, entre as quaes se contam Antonio de Mello e Castro, e seu filho Caetano de Mello e Castro, ambos vice-reis do estado da India. Não muito distante de Collares, junto ao oceano, ergue-se a ermida da Peninha sobre um elevado rochedo.
Diz a lenda, que, no tempo de D.João III, andando uma rapariga muda a pastorear n'esta serra varias ovelhinhas, lhe fugira uma, e depois de procurar, e apparecendo-lhe então ahi Nossa Senhora lhe deu falla. A narração do caso attrahiu logo áquelle sitio todos os povos das visinhanças. Descobriu-se entre as fendas da rocha uma imagem da Virgem, feita de pedra, que immediatamente foi transportada para uma antiga ermida de S.Saturnino, perto d'ahi. Desapparecendo, porém, a imagem por tres vezes, e indo-se sempre achar na mesma penedia, sobre esta se lhe construiu ao principio uma pobre ermida, que no anno de 1673 foi desfeita, e em seu logar edificou a actual Pedro da Conceição, gastando n'ella uma boa herança, que recebera, e fazendo-se ermitão de Nossa Senhora. É o templo pequeno e de humilde apparencia no exterior, porém interiormente é rico de materiaes e d'arte, pois que todas as paredes e o altar-mór são de marmores de côres em obra de mosaico. Os marmores foram tirados da mesma serra, a pouca distancia da ermida. este santuario é ainda hoje de bastante devoção, e concorrencia, porém outr'ora affluia ali muito maior numeros de fieis, e era visitado de muitos cirios e romagens. Pouco adiante de Collares fica o logar de Almocegeme, e perto d'ahi duas curiosidades naturaes dignas de se ver: a Pedra d'Alvidrar sobre o oceano, e o Fojo mais no interior. A villa de Collares é cercada de muitas e formosas quintas, das quaes só especialisaremosa de rio de Milho por encerrar a mais gigantesca e vicosa camelia, que ha em toda a Estremadura.
O sitio chamada a Varzea é dos mais lindos e amenos dos arrebaldes da villa. As aguas do rio das Maçãs, represadas ahi em uma ponte de pedra, deixam gosar o prazer de navegar-se em um pequeno barco, que ali ha para esse fim, pelo rio acima até certa distancia, sempre entre pomares, e debaixo de copado arvoredo. A uma legua da villa está a praia das Maçãs sobre o oceano, onde termina o rio d'este nome, e o valle de Collares. Vão ali muitas famílias tomar banhos do mar na estação propria. O termo de Collares produz grande abundancia de excellentes fructas, que abastecem a capital, e se exportam para Inglaterra, e de vinhos, que são estimados, e se assimilham aos de Bordeus.Extrato do livro "As Villas de Cintra"
Nota póstuma: sempre vivi com a idéia que os habitantes de Colares eram colarenses, mas há uns anos alguém me argumentou que a palavra correcta era colarejos. Segundo o dicionário Universal, colarense, não existe e define colarejo como: adj., que é de Colares ou que lhe diz respeito; s. m.,natural ou habitante de Colares.
Praia Grande, hoje. Curioso como agora há tanta areia, não se vê uma única pedra.
Banda da União Mucifalense, hoje no hastear da bandeira em Sintra.
Começam hoje as festas de Almoçageme, em honra de Nossa Senhora da Graça.