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Colares foi bafejada pela sorte. Tem a sorte de ter Miguel Esteves Cardoso a escrever amiúde sobre o que se passa na freguesia e nas freguesias vizinhas que têm os mesmos encantos (afinal é apenas uma linha administrativa que nos separa).
Escrever depois do MEC é como discursar depois dum show man ou como num programa de talentos cantar depois da grande sensação.
Como escreveu o Nuno Moreira na rede social efémera, onde tudo desaparece ou vai desaparecer, quanto MEC escreve sobre um assunto não há mais nada a acrescentar, e, tudo o que se possa escrever é pior.
Ontem e hoje está a acontecer o festival do mexilhão em Colares, e com enorme sucesso. Fico muito feliz pela ideia. São estas coisas que fazem falta ao turismo colarejo. Nem sei como ninguém teve esta ideia mais cedo. Parece-me, agora, universalmente óbvio que Colares tem de ter um festival destes. Se há sítio para haver um festival do Mexilhão é em Colares.
Para o ano, vamos repetir, vamos divulgar mais, vamos tentar chegar às TVS. Vamos trazer mais gente para Colares.
Sabemos que, a atracção de Colares não é a qualidade balnear que maioria das pessoas gosta (mar calmo, água quente, muita areia). As praias são ao contrário o que também é muito apreciado por outros: Mar agitado, água fria.
Mas acima de tudo, o Verão de Colares é sossegado e é tudo muito bonito. Temos a praia, as arribas, o pinhal a serra.
Afirmemos a estadia e a capacidade de alojamento. E mostremos a nossa tradição: O peixe, os "percebos", o mexilhão. Principalmente o mexilhão na Páscoa.
(Foto de Júlio José Silva)
Crónica do Mestre, dia 18/04/2014, no caderno life&style do jornal Público, disponibilizado aqui.
Hoje é um bom dia para vir à Praia das Maçãs comer mexilhão. Nas rochas vêem-se pessoas a apanhar mexilhão e, caso apanhem mais de três quilos ou apanhem mexilhão pequeno de mais, a serem multadas.
As multas rendem mais do que o mexilhão. Também é preciso coragem para comer o mexilhão das nossas costas. O mexilhão, ao contrário do percebe, não tem jeito nenhum para expulsar os venenos e é por isso que as intoxicações são tão vulgares.
Os melhores restaurantes de Colares — entre os quais o Neptuno, na Praia das Maçãs (cozinheiro Paulo) e a Adega das Azenhas (cozinheira Lurdes) — juntaram-se para fazer um Festival do Mexilhão no Mercado da Praia das Maçãs. Mas o mexilhão não será selvagem, para não haver problemas. Será cuidadosamente escolhido e cozinhado. O festival começou ontem mas continua hoje, das quatro da tarde até à meia-noite.
A entrada é livre e cada pratinho de mexilhão só custará 5 euros. Haverá mexilhão ao natural, mexilhão à Bulhão Pato e mexilhão à espanhola. Todas as bebidas — cerveja, vinho, refrigerante ou água — custarão 1 euro cada uma.
O mexilhão foi comprado ontem, pelo que não poderia estar mais vivo ou mais fresco. É a vantagem de um festival que dura apenas dois dias: não há tempo para nada envelhecer. Outro trunfo é o facto de o festival se realizar nas instalações (recém-renovadas) do Mercado da Praia das Maçãs. As vendedoras de frutas e de hortaliças são excelentes. Digo isto porque muitas vezes a preparação de moluscos à Bulhão Pato é prejudicada por alho de baixa qualidade e coentros menos do que fresquíssimos.
Também haverá bifanas e outros petiscos para quem não quiser dedicar-se integralmente ao mexilhão.
Num louvável espírito de cooperação — não estivesse a freguesia de Colares entre as mais simpáticas de Portugal — não haverá uma dúzia de barraquinhas, cada uma ocupada por um restaurante diferente. Haverá uma única cozinha central, sob a supervisão dos entendidos dos restaurantes.
É preciso avisar que aqui em Colares come-se mexilhão todos os dias ao longo de todo o ano. Todos os restaurantes sabem cozinhá-lo com respeito e sabedoria. O mexilhão vem do Norte de Portugal. Não encontrará aqui mexilhão da Nova Zelândia.
Um dos prazeres é falar do mexilhão com os habitantes e os cozinheiros. Toda a gente tem histórias engraçadas sobre a apanha do mexilhão. Discute-se o calibre do mexilhão: o maior e mais caro vai para Espanha, onde estão dispostos a pagar mais por ele.
O mexilhão sabe melhor quando se está a olhar para ele: é o caso da Praia das Maçãs, com as rochas cobertas de mexilhão (e de percebes que são muito bons e mais baratos do que em Cascais ou Lisboa).
O festival é organizado pela excelente Junta de Freguesia de Colares e pelo Clube Recreativo da Praia das Maçãs. São garantias de qualidade e de autenticidade. Sabem o que fazem e trabalham e moram cá todo o ano.
Depois, se ficar inspirado, pode entreter-se a experimentar o mexilhão de todos os restaurantes que participaram (e de outros que ficaram de fora, como o Búzio) no festival. Cada um tem um jeitinho especial e cada um é delicioso à maneira dele.
Na Bélgica, há muitas maneiras de cozinhar mexilhões e o acompanhamento tradicional são as batatas fritas. Em Portugal, o acompanhamento do mexilhão é o bom pão, para ensopar o molho. Assim será na Praia das Maçãs.
Terá é de ir hoje, sábado: o segundo e último dia. O próximo Festival do Mexilhão da Praia das Maçãs só será daqui a um ano. Uma ideia romântica será apanhar o bonito eléctrico que vai de Sintra à Praia das Maçãs e vice-versa. O mercado fica ali a uns passos. O passeio é barato e encantador, mas não é para quem tem pressa.
Se chover, não faz mal. O mercado foi todo renovado, com um telhado novinho em folha, que não deixará passar uma única gota.
Se estiver sol, pode integrar a mexilhoada com uma ida à praia, sempre a pé.
Aleluia
Notas finais: Não consigo deixar de dizer "percebos". Aprendi assim e não consigo corrigir para percebe, perceve, ou perceba que são os nomes corretos. Para mim são "percebos".
Ontem fui a São Pedro de Sintra e era impressionante a quantidade de espanhóis que por lá circulava. Parecia que estava numa vila espanhola com noventa por cento dos carros com matrícula espanhola. Se conseguíssemos fazer do mexilhão o ex-líbris da Páscoa em Sintra, estes turistas são uma mina por explorar.
Ontem, na véspera do dia da tradição de apanhar o mexilhão, saiu uma interdição para apanhar mexilhão em parte da costa portuguesa, incluíndo Sintra. Esta interdição surgiu devido à presença duma toxina com risco para a saúde pública.
Apesar da notícia ter circulado ontem pelo Facebook e pelos blogs, maioria das pessoas desconhecia a interdição e aconteceu mais uma apanha do mexilhão na Sexta-feira Santa. (Foto do blog Rio das Maçãs).
Segundo o site Tudo sobre Sintra, não havia qualquer autoridade na costa a alertar e/ou proibir as pessoas de apanhar o mexilhão.
Como sempre, há colarejos castiços: ". Outros dizem que depois de saberem do risco vão evitar dar mexilhões aos mais novos, mas não vão desperdiçar o produto da manhã. "É tradição. Se apanhar uma dor de barriga, paciência", diz outro apanhador."
Há qualquer coisa de errado em tudo isto: Desde criança que me lembro das pessoas irem apanhar mexilhão na costa, neste dia. As autoridades com certeza também o sabem. Sai um alerta desta natureza e não há vigilância na costa? Não há autoridades a proibir as pessoas ou no mínimo a alertar?
Ou por outro lado, será que foi um exagero este relatório do IPMA e por isso as autoridades acharam que não era preciso alertar as pessoas?
Começou a época do mexilhão :)