Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Gosto da minha rua. É uma destas ruas perpetuamente adormecidas, onde é raro ouvir o pregão duma colareja ou o rodar vibrante dum trem passando a trote. Não tem loja de vendas e as suas duas fileiras de casas são, condizentes com ela, tranquilas e quase soturnas. Ao rebentar da Primavare começam germinando entre as pedras da calçada tufozinhos de erva tenra, que, um dia, a vassoura da limpeza corta cerce e brutalmente. Não é de senhoras vizinhas e conversas de soalheiro. Os que a habitam são de génio pacato e acomodado, recolhem cedo e saem logo de casa para os seus afazeres, É uma rua boa para tristes e pessoas de idade, para quantos precisam de repouso e temem a perturbadora agitação dos outros.
André Brun, "Dez contos em Papel", Livraria Editora Guimarães, 1925
Foto de Pedro Macieira
Texto via Dias que voam