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Ao transpor a ombreira da porta do restaurante um arrepio apoderou-se do meu corpo, coeçando pelos pés, libertou-se na ponta dos cabelos e desapareceu. Lá fora a noite estava excelsa, apesar da diferença de temperatura a que rapidamente me habituei. Fui mais uma vez junto da praia, apreciar o extenso areal, agora praticamente deserta. Ao longe, alguém passeava pela orla das ondas em direcção ao rio das maçãs. O Sr. Júlio, semente e fazendeiro daquela terra, um velhote simpático que passava os dias a contemplar o mar e contar histórias, contara-me no outro dia a história daquela praia:
(...)
Apesar da magnífica vista do alto das Azenhas do Mar, a praia deixava algo a desejar. O reduzido areal que quase desaparecia ao sabor das marés não combinava com o meu desejo de passar uma manhã na praia. Assim, todas as alvoradas depois da minha corrida matinal, dirigia-me à praia das Maçãs ou outra qualquer das redondezas.
(...)
Quando pasei a zona de rebentação e psiava a areia em busca de suporte, procurei a minha toalha e eis que reparo num jovem bem parecido de porte atlético debruçado sobre a minha bolsa:
- Ladrão, ajudem-me! - as palavras sairam instantaneamente, talvez devido á quantiddae de roubos a que já estava habituada na cidade do PortoO João, reagindo à minha voz como se fosse a de um mestre, imediatamentecaiu no encalço do larápio, juntamente com os seus três amigos. Juntei-me à perseguição.O rapaz saiu disparado da praia e virou á direita em direcção a Colares. Apesar da sua agilidade e velocidade, todos aqueles que o perseguiam incluindo eu não ficávamos atrás e, não sei se pelo efeito de grupo ou pelo desejo iminente de alcançar algo, íamos encurtando a distância que nos separava.Ao chegar ao estacionamento da Piscina da Praia das Maçãs um dos amigos do João, num gesto preciso e calculado, passou uma rasteira ao fugitivo que imediatamente perdeu o equilibrio, deslizando no alcatrão.Ficou com um aspecto lastimável, o peito escorria sangue e exibia profundos arranhões, tal como as mãos e os joelhos. Por sorte a cara fora poupada, mas por pouco tempo. Imediatamente outro dos amigos do João, num ímpeto de fúria aplicou-le uma valente murro.Aiiii! Porra! - o gemido ecoou pelas redondezas e as pessoas começaram a voltar-s e na nossa direcção.
Se na beira-mar desceu às grutas "fantásticas" no caminho que até lá percorreu William Beckford subiu ao topo de "montes bravios e ermos". Num deles onde não pôde demorar-se "metade do tempo que desejava" viveu uma experiência singular que o transportou ao universo do sagrado: "esta fresca brisa impregnada do perfume de inúmeras ervas e flores aromáticas, parecia infundir um novo alento nas minhas veias e um quase irresistível desejo de me frotar por terra e adorar neste vasto templo da Natureza a origem e a causa da vida". Percorreu ainda uma "estrada, que serpeia entre rochedos" explorou recantos e esconderijos "seguindo o curso de um cristalino e murmurante ribeiro, que forma uma cascata entre moitas de alfazema e rosmaninho do mais desmaiado verde" encontrou uma "deliciosa aldeia".
Este texto foi escrito por Maria Júdice Borralho no site Naturlink acerca da visita do escritor a Sintra. Mais abaixo refere: O relato do passeio realizado pelo escritor inglês representa um hino a Sintra. A "aldeia deliciosa" é Colares, o rochedo piramidal A Pedra de Alvidrar e o lugar onde sentiu o irresistível desejo de "adorar a origem e a causa da vida" situa-se no Castelo dos Mouros.
M. Júdice Borralho terá estudado o assunto e Beckford referir-se-á a Colares, mas eu, a ler o texto sem informação adicional, pensava que ele falava das Azenhas do Mar. Link do Artigo
Mais uma merecida homenagem em Colares, desta feita ao Sr. Eduaro Sequeira, que tanto tem apoiado, entre outras associações, os Bombeiros voluntários de Colares. Foi entregue a medalha de mérito municipal pelo senhor presidente da C.M.Sintra, Fernando Seara.