Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Noites de Colares

por Nuno Saraiva, em 31.07.06

 

Como referiu o Noticias da minha freguesia neste post, a Banda de Colares deu um concerto dia 22/07, na várzea, enquandrado nas "Noites de Colares".

publicado às 14:11

A SOCIEDADE DAS CIÊNCIAS MÉDICAS DE LISBOA

por Nuno Saraiva, em 29.07.06

No ano de 1902 uma Escola de Medicina Tropical foi fundada em Lisboa, passando a existir com denominação de "Instituto de Higiene e Medicina Tropical". O impulso para a criação dessa Escola de Medicina Tropical partiu da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, uma das mais antigas sociedades médicas do mundo fundada em 1822. Recordemos a dívida que todos temos para com Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, e citemos as palavras do médico Costa Sacadura, presidente desta sociedade em 1952: "deixem­-nos recordar os nomes por ventura esquecidos da Marinha e dos territórios ultramarinos que, em regiões de África, inclementes naquela época, nas mais rudes condições, em relação ao clima, higiene e acomodações, privados de todos e quaisquer meios de estudo, foram os primeiros a descobrir os segredos e as riquezas de uma exuberante flora médica oferecida pela natureza aos homens para a cura das suas doenças, algumas das quais, nós podemos realçar, eram estranhas, terríveis e ainda por estudar, devastando tanto os nativos como os colonos".

Entre aqueles médicos deveremos referir pelo menos dois nomes: Bernardino António Gomes (1768-1823) e Carlos França (1877-1926). Bernardino A. Gomes serviu na Marinha de 1797 a 1801 com o posto de comandante, e já por nós foi referido a propósito de outro grande nome da Medicina portuguesa: António Nunes Ribeiro Sanches, médico higienista (1699- 1783). Bernardino A. Gomes descobriu em 1812, um dos alcalóides da cinchona-quinina-e seu consequente uso terapêutico, antecedendo Pelletier e Caventou. A Medicina Tropical foi incorporada no currículo da Escola Naval de Lisboa, em 1887. A escola fora criada por decreto de 23 de Abril de 1845 (ministro José Falcão), e reformada em 1887, passando a partir de então os futuros oficiais de Marinha, incluindo os médicos, a frequentar essa disciplina. Nesta conjuntura, um curso foi instituído de Higiene Naval e Colonial-parte I, seguida da parte II, Patologia Exótica. Este curso de 1887 pode ser considerado como o embrião dos futuros cursos de Medicina Tropical. O Almirantado tem o mérito e a honra de ser pioneiro deste ramo da Medicina em Portugal.

Carlos França tem igual direito a ser recordado entre os pioneiros da Medicina tropical. Os seus trabalhos sobre os tripanosomas, iniciam-se em 1905 com a publicação de um artigo registando a sua observação de um caso da doença do sono. No sangue do paciente ele encontrou tripanasomas, os quais inoculou experimentalmente em ratos; alguns dias mais tarde, ele encontrou os parasitas no sangue dos ratos inoculados. Faremos também menção do seu trabalho no campo das Glossinae, consideradas como vectores da doença do sono africana. A mosca tsetse (Glossina morsitans) é também uma praga e flagelo do gado, ao qual transmite a doença nagana. "Quem quer que viaje com animais domésticos, escreveu Livingstone nas suas memórias-jamais esquecerá o particular zumbido da mosca tsétsé, uma vez que a tenha ouvido". (David Livingston, 1813­1873) explorador e missionário no continente africano).

Mais recentemente Bruce torna a referir que entrar numa zona de mosca tsetse resulta numa inquietação, intranquilidade e desespero tanto para homens como animais. Alguns historiadores consideram ser a mosca tsetse a razão do estilo de vida nómada de algumas populações nativas africanas; a constante fuga à praga, argumentam eles, é responsável pelo grande êxodo dessas populações. Carlos França também estudou em 1905 a mosca do Cazengo, Angola. Ele acreditava que fosse uma espécie por descrever de Diptera, e propôs-lhe o nome de Glossina bocagei. No mesmo ano descreveu Glossinae da África Oriental conservada no Museu Bocage de Lisboa­ Faculdade de Ciências, onde ele era naturalista, considerando-as de especial interesse em relação à etiologia da doença do sono. Ele continuou a interessar-se pela entomologia médica exótica, com séries de estudos, principiando em 1913, sobre insectos sugadores de sangue. Em todos os seus trabalhos sobre parasitologia, Carlos França preocupou-se não só com a pesquisa científica mas também com a aplicação prática das suas descobertas. Esta tendência é bem visível nos seus estudos sobre a bilharziose. A bilharziose, raramente encontrada na Europa, apareceu em Portugal em 1921. Num artigo sobre bilharziose, Carlos França situa a sua frequência, a escala e a incidência da doença, uma descrição biológica do Shistosoma, medidas preventivas tomadas no passado, e as suas próprias recomendações para a prevenção futura e tratamento. Desejando dar ao seu trabalho uma dimensão prática, incluiu duas ilustrações e escreveu um anexo para ser traduzido nas línguas nativas e distribuído às populações indígenas como um meio de propagar conhecimentos básicos na prevenção da doença. Mais tarde voltou a pronunciar-se sobre a eclosão da bilharziose em Portugal, promovendo a hipótese que a doença tinha sido importada por soldados de regresso de expedições tropicais. Outras áreas da parasitologia exploradas por Carlos França incluem a filariose, uma doença parasitária causada pela filária Wuchereria bancrofti. A filariose encontra-se por toda a parte no mundo, predominantemente em África e é inoculada no homem pelos mosquitos Anopheles culex e Stegomyia.

No ano de 1924 o conselho da Faculdade de Medicina de Lisboa votou por unanimidade a nomeação de Carlos França como professor de Parasitologia. Por ocasião do centenário da Escola Régia de Cirurgia de Lisboa (1925), Carlos França deu quatro lições de parasitologia, algumas das quais como a lição intitulada "Ciclos da evolução de certos parasitas", contendo muita matéria original. Fora porém por volta de 1896 que com Câmara Pestana, um dos maiores nomes da Medicina portuguesa, se iniciara a sua longa caminhada de cientista. Homem de muitos talentos, capaz de inspirar outros com o seu próprio entusiasmo, um homem de ciência e ensino, médico parasitologista e historiador, Carlos França foi acima de tudo um Português e um patriota. Depois de 1921, dedicou-se ao estudo das descobertas portuguesas nos campos da Medicina e Biologia, principiando com o estudo "An early Portuguese contribution to Tropical Medicine", apresentado em Londres à Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene. Os seu estudos mais importantes neste dom ínio foram contudo "Os Portugueses da Renascença, a Medicina Tropical e a parasitologia" (França) e "Os Portugueses do século XVI e a História Natural do Brasil".

Terminaremos com as suas próprias palavras:

"Deixem-nos glorificar os reconhecidos grandes homens de ciência, aqueles que vieram no tempo certo para trazer a verdade em triumfo. Mas não esqueçamos aqueles que vieram antes, os quais com o seu trabalho preparam o triumfo."

Artigo de Fanny Andrée Font Xavier da Cunha na revista Medicina na Beira Interior, disponível numa sebenta da faculdade de medicina de Coimbra.

publicado às 16:47

A Quinta da Regaleira vai abrir gratuitamente as suas portas para a realização de um concerto da Orquestra Sinfónica da Universidade de Southampton. As melodias de Bach, Elgar ou Bethoven vão poder ser ouvidas no próximo dia 2 de Agosto, pelas 17H30.

Esta orquestra, é constituída por 40 elementos, e vai fazer um tour por Portugal, a partir de 31 de Julho, com actuações em Palmela, Viana do Castelo e Sintra.

Alvor de Sintra

publicado às 09:40

Dr. Carlos França

por Nuno Saraiva, em 27.07.06
Photobucket - Video and Image Hosting

publicado às 09:18

No dia 9 de Junho de 1977 perfez-se um século sobre o nascimento de Carlos França, e a tarefa de comemorar esse centenário com um discurso coube, por convite da edilidade de Colares, terra adoptiva de França, ao Prof. Doutor João Cândido da Silva Oliveira (1), da Faculdade de Medicina de Lisboa, de cuja conferência comemorativa transcrevemos alguns excertos.

O panorama da ciência médica portuguesa sofrera no último quartel do século XIX uma prodigiosa mutação com o advento de Câmara Pestana. É do conhecimento geral que o longo período que a precedeu se caracterizou entre nós pela ausência quase total de pesquisa científica original, confinando- -se os clínicos, embora competentes, à simples informação dos factos e doutrinas criados em centros além fronteiras. Tal situação colocava a medicina nacional num plano subsidiário em confronto com os obreiros fazedores de ciência que labutavam nos laboratórios e clínicas para lá dos Pirinéus. No vasto campo da Biologia, normal e patológica, Pasteur em França, Koch e Erlich na Alemanha e Lister nas Ilhas Britânicas haviam lançado os fundamentos de novas ciências experimentais, criando a Microbiologia e a lmunologia com larga repercussão na clínica e na terapêutica. Uma enorme vaga de jovens investigadores logo acudiu ao chamamento dos grandes mestres e, no curto período das duas décadas finais de oitocentos, foram descobrindo os agentes das principais doenças infecto­contagiosas e desvendando os mistérios da sua acção patogénica.

Em Portugal, deve-se a Câmara Pestana, jovem médico madeirense, inteligente e diligente, a obra ímpar de criar o primeiro laboratório-escola de medicina experimental, onde nasceu para nós a Bacteriologia e ciências afins e onde floresceu um escol de investigadores cujos nomes, espalhados aos quatro ventos por revistas, anais e livros científicos, deram à biologia portuguesa um lustro que nunca tivera. Num velho pardieiro do Hospital de S.José, improvisado em É àquele grupo de noveis cientistas guiados pelo saber de Câmara Pestana que veio juntar-se por volta de 1896, um jovem estudante de medicina, pleno de entusiasmo, idealista e liberal, de seu nome Carlos França, nascido em 9 de Junho de 1877 em Torres Vedras e filho do médico militar Dr. Inácio França. E aqui começa a história dum dos nossos mais notáveis cientistas, cuja obra se estende por quase duas centenas de publicações estampadas nos prelos do mundo culto europeu. Desta longa caminhada em que França se empenhou, resultaram sucessivamente escritos de neuro-histologia, de bacteriologia, de rabiologia, de epidemiologia e clínica, de zoologia, enfim de parasitologia animal e vegetal, ciência em que fez obra verdadeiramente notável. instituto de investigação, se juntou em torno de Câmara Pestana um punhado de moços entusiastas, mal saídos da Escola Médica, uns médicos, outros ainda estudantes, que se chamaram Anibal Bettencourt, Morais Sarmento, Gomes de Rezende, Bello de Morais, Amor de Melo, Ayres Kopke, Francisco Gentil, Mark Athias, o veterinário Reis Martins e muitos outros que ajudaram a fundar e engrandecer com as suas pesquisas o que então se passou a designar, na letra do decreto de 1892, Instituto Bacteriológico de Lisboa. O que foi a vida e obra de apostolado de Câmara Pestana, morto aos 36 anos no cumprimento da sua missão quando estudava a epidemia de peste bubónica que em 1899 assolou a cidade do Porto, está contado e recontado.(...)

O rol bibliográfico deste multímodo pesquisador foi elaborado e comentado pelo seu mais ilustre biógrafo, o Professor Ferreira de Mira. (...) A primeira publicação intitulada .Contribuição para o estudo das alterações cadavéricas das células radiculares da medula espinhal. saiu nos .Arquivos de Medicina., fundados por Câmara Pestana, quando França era ainda estudante e já interno dos hospitais de Lisboa. É um trabalho de Histologia do sistema nervoso elaborado no que ele designou por .Laboratório de Histologia do Real Instituto Bacteriológico de Lisboa.

E não é para admirar que, duma oficina de bacteriologia, surgisse uma obra de histologia já que Câmara Pestana, o mestre, era a um tempo versado em microbiologia, em anatomia patológica e em clima, dentro do conceito de que a ciência médica forma um todo onde importa estudar tanto as causas da doença, como os seus efeitos e sua possível cura. Daí que a dissertação inaugural de Carlos França que culminou a sua vida estudantil em 1898, fôsse também um trabalho de histologia sôbre o método de Nissl no estudo da célula nervosa e bem assim a publicação do ano seguinte sobre o papel dos leucócitos na destruição da célula nervosa, já de parceria com o notável histologista Mark Athias que então havia feito a sua aprendizagem em Paris com Mathias Duval e viera juntar-se à turma de Câmara Pestana. Nesse ano memorável de 1899 as atenções de todos estavam centradas na peste do Porto, onde acudiu Pestana com os seus colaboradores Gomes de Rezende e Carlos França.

O trabalho árduo a que todos se votaram dia e noite no miserando Hospital das Guelas de Pau, onde se acumulavam os pestosos, teve por epílogo a contaminação de Pestana e de França com o terrível morbo que levou à morte o primeiro e poupou por um triz o segundo. Desse trabalho clínico, epidemiológico e laboratorial deram conta Carlos França e Rezende no seu relatório de 1900. O material então colhido serviu-lhe de substrato para o estudo das alterações dos centros nervosos na peste e mais tarde para a descriminação das lesões cutâneas na mesma doença publicadas em revistas francesas e alemãs.

A aprendizagem da bacteriologia ía-lhe custando a vida mas não lhe afrouxou o ânimo, de tal modo que a breve trecho se lançou nas investigações sobre a raiva. Por essa época a raiva, doença invariavelmente mortal, grassava com intensidade em todo o País. O cão danado surgia em cada esquina ao indígena incauto e, para tratar os mordidos, tinha Câmara Pestana apetrechado o seu Instituto, que por morte de Pestana era agora dirigido por Aníbal Bettencourt. Vale a pena lembrar que a fundação do Instituto Bacteriológico muito deveu à Rainha D. Amélia, cujo retrato pintado por Salgado ainda orna muito justamente as paredes da biblioteca desta instituição. À beira da morte, Pestana escrevera à Rainha no sentido de interceder para que a direcção do Instituto fôsse entregue ao seu colaborador mais antigo, o Bettencourt e que Carlos França entrasse no quadro como médico auxiliar.

O testamento do sábio bacteriologista foi escrupulosamente cumprido. Nomeado chefe de Serviço da raiva, Carlos França dedicou-se logo ao estudo das alterações de sistema nervoso nos indivíduos mortos pela doença e à pesquisa de métodos laboratoriais que facilitassem o diagnóstico da doença em vida. Por outro lado, conhecedor de que a doença provinha dos animais e constituía a zoonose mais terrível, empreendeu um conjunto de estudos memoráveis que intitulou .Pesquisas sobre a raiva na série animal., investigando os murídeos, a raposa, o ouriço, o texugo, a doninha, o porco espinho e o lobo, estabelecendo dados que mais tarde viriam a ser confirmados por pesquisadores doutros países.

Só muito depois dos seus estudos, o ratinho ou murganho se tornaria, como ele previra, o animal sensível de escolha para a investigação do vírus rábico. Os temas de estudo surgiam-lhe agora debaixo dos pés. Na nosografia nacional reaparecia em 1900 a meningite cerebroespinhal epidémica que por um quarto de século andara arredada do País. A onda epidémica, que partira do nordeste transmontano e se espalhara a todas as províncias, atingiu o seu auge no começo de 1902. Os numerosos casos geralmente ocorridos em crianças da área de Lisboa eram acolhidos no serviço especial de isolamento instalado no Hospital de Arroios cuja direcção foi cometida a Carlos França. Então por sua iniciativa neste hospital ou em colaboração com Aníbal Bettencourt no Instituto Bacteriológico, empreendeu um longo estudo clínico, epidémiológico, anatomo-patológico e bacteriológico, de que prestou contas num relatório ao Conselheiro-Enfermeiro-Mor dos Hospitais e que publicou, em pormenor, numa memória subscrita por Bettencourt e França a qual constitui o primeiro artigo do primeiro número da publicação ainda hoje denominada .Arquivos do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, que foi sucessivamente dirigida por Anibal Bettencourt, Nicolau Bettencourt e por mim próprio. Nesta e noutras publicações sobre a meningite epidémica ressaltam verdadeiras inovações, como o uso de substâcias antissépticas injectadas no canal raquidiano para tratamento da doença, método que logo foi adoptado pela medicina de além fronteiras.

Ano após ano foi-se desentranhando em pesquisas diversas até que, em 1910, a epidemia de cólera da ilha da Madeira veio mudar o curso à sua actividade e influir radicalmente na sua vida científica. Já então se havia proclamado a República no País e o ministro do Interior, ao tempo o Dr. António José de Almeida, alarmado com a difusão da epidemia de causa ainda não confirmada, sugeriu ao Prof. Ricardo Jorge, Director Geral da Saúde, que se enviasse Carlos França a fim de apurar o diagnóstico e assumir a direcção da luta antiepidémica. Caldeado pela experiência dos andaços pestosos do Porto e meningíticos de Lisboa, era França o nome indicado para semelhante tarefa. De principio recusou alegando o seu estado de saúde. Na verdade, desde há tempos que o vinha aflingindo o mal que o havia de levar à morte, mas o sentido do dever foi mais forte e, a 30 de Novembro desse ano, partiu para a Madeira no vapor S. Miguel, já investido no cargo de Director dos Serviços Sanitários Insulares. Imediatamente após a sua chegada procedeu aos estudos laboratoriais que firmariam o diagnóstico de cólera pelo isolamento e culturas do vibrião seu agente. Ao mesmo tempo iniciou um conjunto de medidas de combate à doença, estabelecendo uma organização sanitária modelar que a breve trecho conduzia à extinção da epidemia. Não foi porém sem obstáculos que o árduo trabalho se processou. Deparou-se-lhe uma população na sua maioria ignorante e fanática, vivendo na miséria e na ausência dos mais rudimentares preceitos de higiene motivada pelo alcoolismo e a fome, negando-se a aceitar que a doença reinante era a cólera. O encerramento do porto do Funchal mais agravou a animadversão do povo. Urgia trabalhar depressa e com decisão. Logo que aquela pobre gente viu a epidemia a declinar, mercê das medidas adoptadas, afrouxou a sua desconfiança e como escreveu com modéstia o próprio Carlos França, a Madeira, com inegualável bizarria, recompensava generosamente aquele sobre cujos ombros pesava indevidamente o honroso encargo de Chefe dos Serviços Sanitários do Distrito.

Entretanto iniciara França, no Instituto Bacteriológico e na Escola Politécnica onde desempenhou o cargo de naturalista do Museu Bocage, a sua obra de parasitologista que havia de imortalizá-lo. Sendo a Parasitologia, já nessa época, uma ciência reconhecida no mundo culto, mal andaria a Faculdade de Medicina de Lisboa se lhe não desse foros de disciplina independente e não procurasse chamar ao seu âmbito Carlos França como professor indiscutível. E assim Carlos França foi por unanimidade e com dispensa de provas, nomeado professor livre da Faculdade. Quando das comemorações do Centenário da Régia Escola de Cirúrgia de Lisboa em 1925, o novo docente proferiu no anfiteatro de Fisiologia do Campo de Santana quatro memoráveis lições de Parasitologia. No início do seu discurso comemorativo disse Cândido de Oliveira: "E porque os escritos e comentos sobre Carlos França escasseiam para vergonha de todos nós, é mister que alguém desencante dos alfarrábios esta maravilhosa história de proveito e exemplo e a traga ao convívio do povo generoso da sua terra. (Colares, 1977)".

É porém ao convívio de todos nós que, neste início de século, deve ser trazida a obra do epidemiologista, parasitologista e higienista que em 1925, referindo-se à omnipotência que a higiene hoje possui, diria .que os seus progressos foram tais que ao Século XX caberia rigorosamente a designação do século da higiene, tais as maravilhas que nele se têm realizado nesse campo, que é, afinal, o de uma das mais belas conquistas para a Humanidade..

Artigo de Fanny Andrée Font Xavier da Cunha* na revista Medicina na Beira Interior, disponível numa sebenta da faculdade de medicina de Coimbra.

* Técnica Superior, Museu Nacional da Ciência e da Técnica.

Notas

1 Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa (1906-? ), distinguiu-se no campo da Bacteriologia, da Serologia, da Parasitologia, da Hematologia, da Quimica Biológica, do Metabolismo Basal, etc. Foi o primeiro que, em Portugal, iniciou estudos sobre Bruceloses.

 

 

publicado às 21:50

Dr. Carlos França

por Nuno Saraiva, em 25.07.06

Photobucket - Video and Image Hosting

 

 Monumento em Sintra

publicado às 23:59

Dr. Carlos França

por Nuno Saraiva, em 25.07.06

Diz a placa na Rua Cândido dos Reis que "Aqui viveu e trabalhou Dr Carlos França para honra e glória de sua Pátria (1877-1926)"

O "Colares - Entre o mar e a serra" meteu mãos à obra e foi descobrir quem foi afinal o Dr. Carlos França.

Os próximos posts serão dedicados a este ilustre médico.

Carlos França foi um dos maiores investigadores portugueses no campo da medicina. este homem da ciência nasceu em Torres Vedras, em 1877, e faleceu em Lisboa a 17 de Julho de 1926, tendo sido sepultado, no dia imediato, no cemitério de Colares, povoação que escolheu para viver e trabalhar, mais precisamente na Quinta Mazziotti. Com uma lista bibliográfica, no dominio das publicações científicas, que atinge o número de 187, Carlos França efectuou importantíssimas descobertas na área da Bacteriologia e, muito particularmente, na Protozoologia. Produziu notáveis trabalhos sobre a meningite cérebro-espinal, iniciando para o tratamento desta doença as punções lombares e injecções de lisol, tendo, em colaboração com o dr. Brandão de Vasconcelos, salvo muitos doentes na região de Colares. Fez parte da missão de estudo da peste bubónica no Porto, chefiada por Câmara Pestana, doença que contraíu, embora tenha resistido, ao contrário do seu mestre. Chefiou, em França, a Secção de Higiene e Bacteriologia durante a 1ª Grande Guerra; e na Madeira desenvolveu pioneiros serviços de defesa e assistência sanitária. A obra de ixada por Carlos França é considerada uma das maiores de todos os tempos na ciência portuguesa, julgando-se no estrangeiro que Colares, onde o grande sábio residiu e trabalhou, era um centro universitário. O monumento que perpectua a sua memória foi riscado pelo arq.º Norte Junior, enquanto que o busto, em bronze, é obra de Artur Anjos Teixeira. Fonte: Câmara Municipal de Sintra

publicado às 23:37

Quinta Mazziotti

por Nuno Saraiva, em 23.07.06

Photobucket - Video and Image Hosting

Vai casar? Já pensou em fazer o "copo d'água" na Quinta Mazzioti, em Colares?

A Quinta Mazziotti é um belo exemplar da residência setecentista, impõe-se pela sobriedade da sua arquitectura, com o desenvolvimento da casa em comprimento, sucedendo-se à parte residencial a capela e jardins.

Situada no ponto mais alto de Colares, com ampla vista para a Serra de Monserrate, este palácio nos seus interiores tem amplas salas decoradas a frescos e painéis de azulejos oitocentistas.

Tem ainda o pormenor histórico assinalado por uma lápide por aqui ter vivido e feito as suas pesquisas científicas de repercussão internacional Dr. Carlos França, lembrado em Sintra com um bonito monumento.

Contactos:

Quinta Mazziotti 
R. Cândido dos Reis, 46
2705-191 COLARES
Tel: 219 283 659 Fax: 219 283 659 Tlm: 962 736 765

Pode consultar a ementa ou ver fotografias no site da Quinta Mazziotti:

 Quinta Mazziotti

publicado às 22:50

Já sou adulto na Banda de Colares

por Nuno Saraiva, em 20.07.06

Está a fazer 18 anos em que me deram a certeza que ia actuar com a Banda de Colares.
Na altura, o Sr. Ramos disse-me a mim ao Rui Oliveira e ao Luís (Bartolomeu). Dois ou três dias depois estava no alfaiate a tirar as medidas para a farda.
Dia 15 de Agosto de 1988, lá nos estreámos os três, na festa da Sra. da Assunção, que na altura era enorme, com uma imensidão de gente por todo o lado.
Para ser sincero não toquei quase nada. A banda arrancou da sua sede, a tocar o "Hélico em Paris" mas o bocal do bombardino fugia com os passos. E além disso tinha que tentar ouvir a caixa para manter o passo certo. ;)

Tinha entrado para a banda uns bons meses antes. Fiz o solfejo rápido, que é a parte mais ciêntifica e na qual eu me sinto bem, demorei mais tempo na execução, que é a parte mais artística e na qual não estou tão à vontade. Quando se entra para a banda começa por se aprender o solfejo, que é a arte (ou ciência) de saber ler escrita musical, depois quando já se sabe minimamente solfejo começa-se a executar um instrumento. Na altura queria tocar trompete, como quase todos, mas o Sr. Domingos e o Fernando lá me convenceram que o melhor era o bombardino. E de facto é dos mais belos e independentes instrumentos duma banda filarmónica.
Depois, quando se consegue executar minimamente o instrumento juntamo-nos então aos ensaios da banda - que na gíria se chama passar à estante. Nesse tempo, a prova para passar à estante era conseguir tocar o Hélico em Paris completo, o que pode ser simples num trombone ou num clarinete, mas não o é no bombardino devido aos complexos contra-cantos característicos destes instrumentos.
No primeiro ensaio também não toquei nada. É que a velocidade a que ensaiavamos nas lições era 3 ou 4 vezes mais lenta do que a real. Eu só consegui olhar para os dedos do Fernando e do Moreira e pensar: Estou lixado.

Depois com o tempo lá fomos ensaiando as outras peças: Campos verdes, Fim-de-Festa, Britânicos, Pérola 59, Hootenine, O Mercado Persa, Lena, Vamos à Romaria, Os Pop Show e muitas outras..
E finalmente a 15 de Agosto, para orgulho de pais e essencialmente avó, saí.

Passados 18 anos ainda lá ando. Apesar das dificuldades de tempo e disponibilidade com que nos deparamos no nosso dia-a-dia e com a panoplia de divertimentos e actividades alternativas. Tocar música é um escape e um meio de manter as nossas organizações centenárias vivas.

publicado às 11:40

Comentário

por Nuno Saraiva, em 17.07.06

Descobri hoje este blog e apesar de ter gostado das coisas que li, fiquei um pouco triste quando li o "sub-título", atenção Colares é a vila mais ocidental do continente Europeu (da Europa será alguma no arquipélago dos Açores).

Isabel Roma

Bem observado e já rectificado.

publicado às 13:38

Pág. 1/3



Mais sobre mim

foto do autor






Arquivo

  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2017
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2016
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2015
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2014
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2013
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2012
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2011
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2010
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2009
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2008
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2007
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2006
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2005
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D

subscrever feeds